Archive for avril, 2015

BRUM: Os índios e o golpe na Constituição

lundi, avril 13th, 2015

Por que você deve ler essa coluna “apesar” da palavra índio

coluna copiada do site do jornal ELPAÍS: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/13/opinion/1428933225_013931.html

Os índios vão ocupar Brasília nesta semana. Ao escrever a palavra “índio”, perco uma parte dos meus leitores. É uma associação imediata: “Índio? Não me interessa. Índio é longe, índio é chato, índio não me diz respeito”. E, pronto, clique fatal, página seguinte. Bem, para quem ainda está aqui, uma informação: mais de mil lideranças indígenas ocupam Brasília de 13 a 16 de abril em nome dos seus direitos, mas também em nome dos direitos de todos os brasileiros. Há um golpe contra a Constituição em curso no Congresso Nacional. Para ser consumado, é preciso exatamente o seu desinteresse.

Guarde essa sigla e esse número: PEC 215. Quando se fala em PEC 215, só a sigla e o número já afastam as pessoas, porque neles estão embutidos toda uma carga de burocracia e um processo legislativo do qual a maioria da população se sente apartada. Os parlamentares que querem aprová-la contam com esse afastamento, porque a desinformação da maioria sobre o que de fato está em jogo é o que pode garantir a aprovação da PEC 215. Se durante séculos a palavra escrita foi um instrumento de dominação das elites sobre o povo, hoje é essa linguagem, é essa terminologia, que nos faz analfabetos e nos mantém à margem do centro do poder onde nosso destino é decidido. É preciso vencer essa barreira e se apropriar dos códigos para participar do debate que muda a vida de todos. A alienação, desta vez, tem um preço impagável.

O que é uma PEC? PEC é uma Proposta de Emenda à Constituição. Um instrumento para, em tese, aprimorar a Constituição de 1988. O que essa PEC, a 215, pretende, em resumo, é transferir do Executivo para o Congresso o poder de demarcar terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação. Só que o resumo, como a gente sabe, nunca explica muita coisa. O direito ao seu território ancestral é uma garantia fundamental da Constituição porque a terra é parte essencial da vida dos índios. Sem ela, condena-se povos inteiros à morte física (genocídio) e cultural (etnocídio). Isso explica por que, em 2012, um grupo de Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul pediu, numa carta aos brancos, que fossem declarados mortos. Preferiam ser extintos a ser expulsos mais uma vez:

“Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais”.

Sem a terra de seus ancestrais, um índio não é. Não existe. Os Guarani Kaiowá, uma das etnias em situação mais dramática do Brasil e possivelmente do mundo, testemunham o suicídio de um adolescente a cada seis dias, em geral enforcado num pé de árvore, por falta de perspectiva de viver com dignidade no território dos seus antepassados. Por isso esse grupo afirmou que preferia morrer a ser expulso, mais uma vez, porque pelo menos homens, mulheres e crianças morreriam juntos, já que os indígenas se conjugam no plural, e morreriam no lugar ao qual pertencem.

O pacote maligno

Esses parlamentares não querem aprimorar a Constituição, mas dar um golpe nela

O poder de demarcar terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação é atribuído ao Executivo pela Constituição não por acaso, como se fosse um jogo de dados, em que a sorte determina o resultado e tanto faz. Foi atribuído por critérios claros, estudados em profundidade, com o objetivo de reconhecer direitos e proteger o interesse de todos os brasileiros. É o Executivo que tem a estrutura e as condições técnicas para cumprir o rito necessário à demarcação, desde equipes capacitadas para fazer os estudos de comprovação da ocupação tradicional até a resolução de conflitos e a eventual necessidade de indenizações. Da mesma forma, é bastante óbvio que a criação de áreas de preservação são parte estratégica da política social e ambiental de qualquer governo.

Quando os parlamentares tentam tirar o poder de demarcação do Executivo para entregá-lo a eles próprios, o que estão tentando fazer não é aprimorar a Constituição, mas dar um golpe nela. Na prática, a PEC 215 é apenas a pior entre as várias estratégias em curso para acabar com os avanços da Constituição no que diz respeito à preservação do meio ambiente e aos povos indígenas, aos quilombolas e aos ribeirinhos agroextrativistas que o protegem.Na prática, se a PEC 215 for aprovada, o mais provável é a paralisação do processo de demarcação de terras indígenas e quilombolas, assim como a paralisação da criação de unidades de conservação. É nesse ponto que a PEC 215 passa a ameaçar também o direito fundamental de todos os brasileiros a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e, por extensão, ameaçar o direito à vida.

A PEC 215, a qual espertamente foram sendo juntados vários penduricalhos perigosos, tornou-se uma espécie de pacote maligno. Ela também pretende determinar que apenas os povos indígenas que estavam “fisicamente” em suas terras na promulgação da Constituição de 1988 teriam direito a elas. Assim, todos aqueles que foram arrancados de suas terras tanto por grileiros quanto pelos projetos de ocupação promovidos pelo Estado, seriam agora expulsos em definitivo. A proposta aqui é legalizar o crime, já que os índios tirados de suas terras pela força lá atrás seriam “culpados” por não estarem nelas, perdendo-as para sempre. Parece coisa de maluco, mas é isso que se defende. Ao investigar os crimes da ditadura, a Comissão Nacional da Verdade constatou que, em apenas dez etnias, 8.350 índios foram assassinados. A reparação por meio da demarcação e da recuperação ambiental de suas terras foram consideradas medidas mínimas e indispensáveis para a restauração da justiça.

Se a PEC 215 passar, por um lado não se demarca mais terras indígenas, por outro, é retirada a proteção daquelas que já estavam garantidas

Mas há algo ainda pior na PEC 215. Ela pretende abrir exceções ao usufruto exclusivo dos povos indígenas, como arrendamentos a não índios, permanência de núcleos urbanos e propriedades rurais, construção de rodovias, ferrovias e hidrovias. Busca também revisar os processos de demarcação em andamento, assim como impedir a ampliação de terras já demarcadas. Há ainda o risco de a PEC 215 abrir espaço, se aprovada, para que as terras já asseguradas sofram modificações segundo os novos critérios. Para entender: se a PEC 215 passar, o que pode acontecer é que, por um lado, não há demarcação de novas terras; por outro, é retirada a proteção daquelas que já estavam garantidas.

As mãos por trás do golpe

Este é um mundo perfeito para quem? Para mim, para você? Acredito que não. Mas é para alguns. Sempre é para alguns. Basta ver quem está no comando da comissão da PEC 215 para entender. Toda a coordenação é da chamada “bancada ruralista”. Mas é importante compreender de que ruralistas estamos falando, para não reforçar uma falsa oposição com os produtores rurais do Brasil, com aqueles que de fato têm interesse em colocar o alimento na mesa dos brasileiros. Um mundo sem terras indígenas e sem unidades de conservação seria bom para quem produz alimentos para o país? Me parece que não. Produtores rurais inteligentes e com espírito público, sejam eles pequenos ou grandes, sabem que precisam de água para produzir. Se precisam de água pra produzir, precisam de floresta em pé. Se precisam de floresta em pé, precisam de terras indígenas e de áreas de conservação.

Então, se este mundo não é bom nem para mim nem para você nem para quem produz alimentos, para quem este mundo é bom? Sempre é possível ter uma pista seguindo o dinheiro. No caso, o dinheiro do financiamento das campanhas. Segundo o Portal de Notícias Socioambientais, em análise feita a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos 20 dos quase 50 deputados da comissão especial que analisa a PEC 215 foram financiados por grandes empresas do agronegócio, de mineração e de energia, por empreiteiras, por madeireiras e por bancos. Alguns destes parlamentares receberam, sozinhos, mais de um milhão de reais de empresas ligadas a esses segmentos.

Este é um capítulo importante para compreender os porquês. Tanto as terras indígenas quanto as unidades de conservação são terras públicas. Aos povos indígenas cabe o usufruto dessas terras. As unidades de conservação são parques e florestas nacionais, estações ecológicas, reservas extrativistas ou biológicas, refúgios da vida silvestre etc, que pertencem a todos nós e que são criadas para impedir a exploração predatória e proteger a biodiversidade, estratégica para o desenvolvimento sustentável.

O objetivo é transformar terras públicas e protegidas em terras privadas para a exploração e o lucro de poucos

Como então colocar a mão nessas terras públicas e protegidas (ou que ainda deverão ser protegidas), terras que são patrimônio de todos os brasileiros, para que elas possam se tornar privadas, para a exploração e o lucro de poucos? Desprotegendo essas terras. E como fazer isso? Dando um golpe na Constituição. Mas como dar um golpe na Constituição? Travestindo esse golpe de legalidade pelo processo legislativo. Junta-se a isso um governo fragilizado, com baixa aprovação popular e pouco apoio até mesmo entre suas bases, e o Congresso mais conservador desde a redemocratização. Pronto, estão dadas as condições para o crime.

Se depois o Supremo Tribunal Federal considerar inconstitucional a emenda, anos já se passaram e tanto a privatização do que é público quanto a devastação de biomas como a floresta amazônica e o Cerrado já se tornaram fatos consumados. E o Brasil, como se sabe, é o país do fato consumado. Basta acompanhar a trajetória de Belo Monte, que entre ilegalidades constantemente denunciadas, várias ações movidas pelo Ministério Público Federal e a suspeita de pagamento de propinas pelas empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, vira fato consumado à beira do Xingu. Quando finalmente chegar ao Supremo, já será tarde demais.

Os índios, esses estrangeiros nativos

A conversão do público para o privado, em benefício dos grandes interesses particulares de exploração da terra e dos recursos naturais do Brasil, é o que está na mesa nesse jogo de gente bem grande. Cabe à população brasileira se informar e participar do debate, se concluir que este não é o projeto de país que deseja. Por causa dos povos indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos? Me parece que seria motivo mais do que suficiente. Sobre os índios, em especial, aqueles que têm grandes interesses nas riquezas das terras que ocupam, costumam espalhar preconceitos como o de que seriam “entraves ao desenvolvimento” e o de que não seriam índios “de verdade”. Mas entraves a qual desenvolvimento e ao desenvolvimento para quem? E o que seria essa categoria, “um índio de verdade”?

Vale a pena examinar os preconceitos de perto, para perceber que eles não param em pé depois de um confronto mínimo com a realidade. Para começar, não existe “o” índio, mas uma enorme diversidade na forma como cada um dos 242 povos indígenas listados pelo Instituto Socioambiental dá sentidos ao que chamamos de mundo e se vê dentro do mundo – ou dos mundos. O Brasil lidera o ranking dos 17 países mais megadiversos do mundo, em grande parte por causa dos povos indígenas. Por países megadiversos compreende-se aqueles que concentram a maior parte da biodiversidade do mundo e, portanto, da sua preservação depende o planeta inteiro. Essa é maior riqueza do Brasil, mas a ganância de poucos e a ignorância de muitos a ameaça e destrói, colocando em risco a vida de todos.

No atual Congresso não há nenhum representante indígena

Os povos indígenas, guardiões da biodiversidade, são silenciados também pela simplificação, às vezes apenas burra, em geral mal intencionada, de fazê-los parecerem um só, chapados como “entraves ao desenvolvimento”. Estima-se que havia mais de mil povos indígenas quando os europeus desembarcaram no Brasil. Hoje, parte dos parlamentares do atual Congresso não mede esforços para completar o genocídio iniciado 500 anos atrás.

Quando a Constituição assegurou os direitos dos povos indígenas, em 1988, não criou direitos novos, apenas reconheceu direitos pré-existentes, já que eles estavam aqui antes de qualquer europeu. Legalmente, não se trata de “dar” terra aos povos indígenas, mas apenas de demarcar a terra que sempre foi deles. Nesse processo, de responsabilidade do Executivo, é preciso indenizar aqueles fazendeiros e agricultores que possuem títulos legais de propriedade (e o “legais” aqui deve ser bem sublinhado), dados pelos governos nos tantos projetos de ocupação, gente que não têm a menor culpa de ter sido despachada com suas famílias para território indígena. Pela Constituição, o Estado tinha um prazo de cinco anos para demarcar as terras indígenas. Como sabemos, passaram-se mais de 25 anos e dezenas delas ainda não foram demarcadas.

Como também sabemos, a ilegalidade faz mal ao país: os conflitos de terra que se espalham pelo Brasil, semeando cadáveres, são resultado da demora em cumprir a Constituição, sobre a qual a bancada ruralista tenta agora dar um golpe. Vale lembrar ainda que os direitos fundamentais são colocados na Constituição também para que a maioria de ocasião não possa ameaçá-los em nome de seus interesses. A importância dessa proteção fica mais clara se prestarmos atenção à atual composição do Congresso: há dezenas de ruralistas e nenhum indígena.

No capítulo “mentiras & manipulações” sobre os povos indígenas há pelo menos três linhas de não pensamento bastante populares no Congresso e fora dele. Há os “atrasadistas”, gente que estudou e que coleciona diplomas, mas prefere ignorar a Antropologia e pensadores da estatura de Claude Lévi-Strauss, para considerar que os índios são “atrasados”. Para estes, existe uma cadeia evolutiva única e inescapável entre a pedra lascada e o Ipad. Não conseguem – ou não querem – ter a amplidão mínima de pensamento para compreender a multiplicidade de escolhas e de caminhos possíveis para a trajetória de um povo. Tampouco alcançam perceber que são essas as diferenças que formam a riqueza da experiência humana. E, claro, preferem se “esquecer” do que o tipo de “progresso” que defendem causou ao planeta.

O ápice da evolução: de “índio falso” a “pobre legítimo”

A segunda linha de não pensamento é a dos “fiscais de autenticidade”. Quando a classificação dos índios como “atrasados” e “entraves ao desenvolvimento” falha, trata-se então de dizer que, sim, os índios têm direitos, mas só os “de verdade”. Haveria então os não legítimos, aqueles que falam português, usam celular e gostam de assistir à TV ou andar de carro. Nessa lógica abaixo da linha da estupidez, os brasileiros que falam inglês, vão à Disney, preferem rock ao samba e ultimamente andam gostando de torcer por times europeus de futebol, também poderiam ser considerados falsos brasileiros e perder todos os seus direitos. Nessa altura da história humana e com tanto conhecimento produzido era de se esperar um pouco mais de sofisticação na compreensão daquilo que faz de alguém o que é.

Quando as duas mentiras anteriores são desmascaradas, aparecem os “bons samaritanos” para salvar a Pátria – deles. Estes acham que quem gosta de mato é antropólogo e ambientalista e que o sonho dos indígenas, o sonho mesmo, no “íntimo do seu intrínseco”, é viver em nossas maravilhosas favelas e periferias, com esgoto serpenteando na porta e polícia dando tiro nas escadarias, à custa de Bolsa Família e cesta básica. Este seria o ápice da evolução: de “índio falso” a “pobre brasileiro legítimo”. Quem, afinal, poderia resistir a tal progresso na vida?

Um golpe na Constituição aqui e acolá e estes bons samaritanos chegam ao ponto ótimo: ajudam os índios que não conseguiram matar a virar pobres e, pronto, para que terra para índio, se já não existe índio? A ignorância só perde para a má fé. Mas é com preconceitos como estes, espertamente disseminados e manipulados, que se tenta transformar os indígenas numa espécie de estrangeiros nativos, como se os “de fora” fossem aqueles que sempre estiveram dentro. Essa xenofobia invertida seria apenas nonsense, não fosse totalmente perversa, a serviço de objetivos bem determinados.

Aderir ou pensar?

Há muita terra para pouco índio? Não. Como costuma dizer o socioambientalista Márcio Santilli, “há muita terra para pouco fazendeiro”. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, há 517 mil índios aldeados em menos de 107  milhões de hectares de terras indígenas, o equivalente a 12,5% do território brasileiro. E onde estão essas terras? Mais de 98% delas estão na Amazônia Legal – e menos de 2% fora de lá. Já os 46 mil maiores proprietários de terras, segundo o Censo Agropecuário do IBGE, exploram uma área maior do que essa: mais de 144 milhões de hectares.

Sobre a realidade da concentração fundiária no país, que continua a crescer, o Cadastro de Imóveis Rurais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) mostra que as 130 mil grandes propriedades rurais particulares concentram quase 50% de toda a área privada cadastrada no Incra. Já os quase quatro milhões de minifúndios equivalem, somados, a um quinto disso: 10% da área total registrada. Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador Ariovaldo Umbelino de Oliveira, coordenador do Atlas da Terra, afirmou que quase 176 milhões de hectares são improdutivos no Brasil. Prestar atenção nos números já é um começo para pensar, em vez de simplesmente aderir.

Muita terra para pouco índio? Não. Muita terra para pouco fazendeiro

Falta espaço para a produção de alimentos no país? Tudo indica que não. Num país com essa quantidade de terras destinada à agropecuária e com essa concentração de terras na mão de poucos, afirmar que o problema do desenvolvimento são os povos indígenas só não é mais ridículo do que Kátia Abreu, a latifundiária que diz não existir mais latifúndio no Brasil e hoje ministra da Agricultura, afirmar que “o problema é que os índios saíram da floresta e passaram a descer na área de produção”. Os índios, esses invasores do mundo alheio. Mas é assim que a história vai sendo distorcida ao ser contada para a população.

Então, sim, respeitar os direitos dos povos indígenas já seria um motivo suficiente para lutar contra a PEC 215. Mas a PEC 215 não ameaça apenas os povos indígenas e as populações tradicionais. Ela ameaça a vida de todos os brasileiros. E por quê? Porque se temos floresta em pé é por causa dos povos indígenas e das populações tradicionais, são eles a pedra no caminho de um tipo de exploração que, depois de consumada, lucros privatizados na mão de poucos, deixa para nós todos o custo da devastação. E agora, nos estados da região sudeste, nós finalmente compreendemos, com o colapso da água, qual é o custo da devastação. Nós finalmente começamos a compreender o quanto corroemos a nossa vida cotidiana ao destruir as florestas e ao contaminar os rios. Não é mais algo subjetivo, uma abstração, mas algo bem concreto. Não é mais um futuro distante, é aqui e é agora. Não são mais os nossos netos, mas os nossos filhos que sofrerão e já sofrem com esse planeta mastigado. Assim como nós mesmos. E só está começando.

Lutar democraticamente para barrar a PEC 215 não é uma atitude altruísta, não é um esforço para respeitar os direitos indígenas, não é algo que fazemos porque somos pessoas bacanas, gente do bem. Barrar a PEC 215 é atender ao nosso instinto de sobrevivência num mundo em que as mudanças climáticas são possivelmente o maior desafio da história humana nesse planeta, que é o único que temos e que destruímos. Se o golpe à Constituição for consumado, o meio ambiente no Brasil perderá boa parte das barreiras que ainda impedem a devastação, reunindo condições e abrindo espaço para a aceleração da corrosão da vida.

Há muita atenção da imprensa e da população sobre os protestos nas ruas do Brasil. O curioso é que, quando são os índios que ocupam o espaço público, apesar de todo o seu colorido, de sua fascinante diversidade, eles correm o risco de tornar-se automaticamente invisíveis. Sua dor, sua morte e sua palavra parecem não existir – ou existir apenas no diminutivo. O olhar dos não índios os atravessa. Desta vez, ainda que por instinto de sobrevivência, seria conveniente enxergá-los. Mas, claro, sempre podemos concluir que o melhor para todos nós é viver cercado de cimento, fumaça e rios de cocô.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes – o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site: descontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum

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ARANTES: O nome da crise

samedi, avril 11th, 2015

Publicado em

La tempête, la Sentinelle et le Syndrome de la vigie – ZAPATISTES

mercredi, avril 8th, 2015
source: http://www.le-serpent-a-plumes.antifa-net.fr/la-tempete-la-sentinelle-et-le-syndrome-de-la-vigie/
Traduction collective (@ValKaracole, @EspoirChiapas, et Le sⒶp) du communiqué de l’EZLN publié le 1er avril. Vous pouvez donc retrouver cette traduction sur le site d’Espoir Chiapas, ainsi que sur le site de Liaison Zapatiste.
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italiano: http://20zln.noblogs.org/supgaleano-la-tormenta-el-centinela-y-el-sindrome-del-vigia/
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español: http://subversiones.org/archivos/114876
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Chèr-e-s ? Ami-e-s et enemi-e-s : euh… bon… c’est que… c’est à dire… vous souvenez-vous qu’à la fin du texte du 19 Mars 2015 « Sur l’Hommage et le Séminaire » nous vous avions mit que l’organisation de ce séminaire était une pagaille ? Eh bien, nous  faisons ce que nous promettions : l’adresse électronique où vous envoyez vos données d’enregistrement est mauvaise, c’est pas ça,  c’est erroné, etc. 
L’adresse correcte est seminario.pensamientocritico15@gmail.com 
Ok, ok, ok, c’est pour moi. Cordialement: Ma pomme à moi!

La tempête, la Sentinelle et le Syndrome de la vigie.

 

Avril 2015. 
Aux Companeroas de la Sexta :
Aux Intéressé-es :
En dépit des apparences, ceci est une invitation… ou un défi ?
Si vous êtes adhérents à la Sexta, si vous êtes un média libre, autonome, alternatif, indépendant ou comme vous vous présentez, si vous êtes intéressés par la pensée critique, donc, prenez pour vous cette invitation au Séminaire « La Pensée Critique face à l’Hydre Capitaliste ». Si, en plus d’accepter cette invitation, vous voulez y assister, s’il vous plaît, suivez ce lienhttp://enlacezapatista.ezln.org.mx/registro-al-seminario-de-reflexion-y-analisis-el-pensamiento-critico-frente-a-la-hidra-capitalista/ 
Si vous avez été invitée, invité, invité-e comme intervenant-e, une missive similaire à celle-ci arrivera par le même biais que celui par lequel on vous a contacté. La différence se trouve que dans la carte d’invitation aux intervenant-e-s se trouve une « clause secrète ».
Bien l’invitation est, comme qui dirait, l’enveloppe
Dedans, plus en bas et à gauche, se trouve…

Le Défi.

Oh je sais. Les classiques débuts des réflexions zapatistes: déconcertants, anachroniques, déplacés, absurdes. Comme réticents, comme juste comme ça, comme « on les pose là », comme « là, vous voyez », comme « ça va de soi ». Comme si vous jetiez une pièce de puzzle et que vous espériez qu‘il soit évident que ça ne décrit pas une partie de la réalité, mais qu’ils imaginent l’image complète. Comme si vous regardiez le puzzle déjà terminé, avec ses formes et couleurs parfaites, mais grâce aux bords des pièces visibles, comme en notant que l’ensemble l’est grâce aux parties, et, clairement que chaque partie prend son sens dans sa relation avec les autres.

Comme si la réflexion zapatiste appelle à voir qu’il manque ce qu’il manque, et pas seulement ce qu’il y a, ce qui se perçoit immédiatement.
Un peu comme ce qu’a fait Walter Benjamin avec « l’Angelus Novus » de Paul Klee. En réfléchissant sur la peinture, Benjamin la « complète »: il voit l’ange, mais aussi il voit que l’ange voit, il voit jusqu’à ce qu’il soit frappé par ce qu’il voit, il voit la force qui l’agresse, il voit l’empreinte brutale. Il voit le puzzle complété : 

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« Il y a une peinture de Klee qui s’appelle Angelus Novus. Dans celle-ci on voit un ange qui parait sur le point de s’éloigner de quelque chose qui le paralyse. Ses yeux regardent fixement, il a la bouche ouverte et les ailes étendues; c’est ainsi qu’on peut s’imaginer l’Ange de l’Histoire. Son visage est tourné vers le passé. Où nous percevons une chaîne d’évènements, lui voit une catastrophe unique qui amoncelle ruine sur ruine et les jette à ses pieds. Il voudrait bien rester, réveiller les morts et reconstruire ce qui est en pièce, mais depuis le Paradis souffle un ouragan qui s’enchevêtre dans ses ailes, et qui est tellement fort que l’ange ne peut plus les fermer. Cet ouragan le pousse irrésistiblement vers le futur, auquel il tourne le dos, alors que les débris s’élèvent face à lui jusqu’au ciel. Cet ouragan c’est ce que nous appelons progrès. » (X, « Thèse sur la philosophie de l’histoire »)

Donc c’est comme si nos réflexions étaient un défi, une énigme de Sphinx, un défi de Mr. Bane, un passe-partout dans les mains du Joker alors qu’il demande : « Pour quoi êtesvous si sérieux ? ».
Comme si le chat-chien, super héros et super vilain, Sherlock et Moriarty, faisait irruption avec une avalanche de questions : que regardons-nous ? pour quoi ? jusqu’à quand ? depuis quand ? dans quel but ? 
C’est comme si nous pensions au monde, interrogeant sa tournure maladroite, débattant de sa course, défiant son histoire, contestant la rationalité de ses évidences.  
C’est comme si, pour un moment à peine, nous étions… 
-*-

La Sentinelle.

 

Vous pouvez voir que, d’habitude, dans une installation militaire il y a des postes en périphérie. On les appelle « Postes d’Observation », « Postes de Garde » ou « Postes de la Vigie ». Le travail de ces postes est de surveiller les alentours et les accès à l’établissement, de façon à savoir ce ou qui approche ou bouge ou reste aux alentours du lieu. Bien, ces postes de surveillance (dans les campements zapatistes on les appelle « le relais », j’en ignore la raison; par exemple, nous disons « t’es de relais à 00h00″, « la relève du relais est à 12h00″, etc.) prévient ou avertit le reste de l’installation, et retient ou détient qui tente de rentrer sans autorisation. Celui qui occupe le poste d’observation c’est le garde, la vigie, la sentinelle. En plus d’observer et d’être attentif à ce qui se passe, la sentinelle est celui qui donne l’alarme en cas d’attaque et face à toute éventualité.
Selon nous, femmes et hommes zapatistes, la réflexion théorique, la pensée critique fait ce travail de sentinelle. Celui qui travaille avec la pensée analytique, c’est son tour de garde au poste de vigie. Je pourrais m’étendre sur la place de ce poste dans le tout, mais pour l’instant il suffit de dire que c’est une partie aussi, rien de plus, mais rien de moins. Je dis ça pour celles, ceux et celleux (ne pas oublier l’égalité de genre et la reconnaissance de la diversité) qui prétendent :
.- Soit être au-dessus et en-dehors du tout, comme quelque chose à part, et se cacher derrière « l’impartialité », « l’objectivité », « la neutralité ». Et qui disent qu’ils analysent et réfléchissent depuis l’asepsie d’un impossible laboratoire matérialisé dans la science, la chaire, la recherche, le livre, le blog, le credo, le dogme, la consigne.
.- Soit qui détournent leur rôle de vigies et s’attribuent celui de nouveau grand-prêtres doctrinaires. Tout en étant à peine des sentinelles, ils se comportent comme s’ils étaient le cerveau dirigeant se changeant en tribunal pénal selon leur convenance. Et depuis là-bas ils ordonnent ce qui doit être fait, ils jugent et absolvent ou condamnent. Bien qu’il faille leur reconnaître que le fait que personne ne leur prête attention, démontrant que la réalité est toujours rebelle, ne les inhibe pas dans leur délire (éthylique, pas peu de fois).
La sentinelle a quelque chose à voir avec le poste de surveillance en question. Mais nous reviendrons là-dessus dans l’une ou l’autre de nos interventions durant le séminaire.
Pour l’instant, il suffit de dire que, accablé, dépassé par la tache d’observation critique dans un monde trompeusement instantané, lors de son tour de garde, le vigile peut tomber dans…
-*-

Le Syndrome de la Vigie.

 

Bon, en fait il se trouve que la sentinelle « épuise » sa capacité de vigilance après un temps.
Cet « épuisement » (que nous, femmes et hommes zapatistes appelons « le syndrome de la vigie ») consiste, grosso modo, en ce que la personne qui est au poste de surveillance développe, après un temps où il est de garde, une espèce de « perception en boucle » ou « constance de la perception ». C’est-à-dire qu’il reproduit dans sa perception consciente encore et encore la même image, comme si rien ne changeait, ou comme si les changements faisaient partie de la normalité même de l’image. Cela a à voir, je suppose, avec quelque chose de la perception visuelle, mais aussi avec le désir que rien ne vienne altérer la routine. Ainsi, par exemple, le vigile ne souhaite pas qu’un danger survienne, et ce désir il le projette sur ce qu’il surveille. « Tout va bien, il ne va rien arriver de mal », se répète-t-il encore et encore, et ce désir se projette sur son évaluation de la réalité. Son objectif est de pouvoir remettre un rapport de surveillance laconique: « rien de nouveau« .
Ce que je vous explique est le fruit d’une observation empirique, pas d’une étude scientifique. Après des années et des années de vigilance, c’est ce que nous concluons de notre propre (et réduite) expérience. Avec le doute persistant de science ou us et coutumes, nous demandons à quelqu’un s’il en est question en neuroscience. Il nous a dit que le phénomène existe, bien que ne soit pas précisé le mécanisme qui le provoque (avant que vous ne vouliez me mettre en travers de la gorge les différents courants ou positions en psychologie, je précise que la seule chose confirmée c’est que le phénomène est réel, vérifiable). Bon maintenant, pourquoi ça arrive ? bon, voyez vous-même – il serait bon que,  par rapport à ça, vous vous mettiez d’accord sur ce qu’est l’objet de connaissance de la « science » de la psychologie -.
Bon, cette personne nous a expliqué ce qu’est « l’attention sélective » et nous a envoyé un livre de ceux d’avant (c’est-à-dire qu’on comprend ce qui est expliqué). En quelques mots, il s’agit du fait que nous ne portons attention seulement qu’à une petite partie de ce que nous voyons à un moment donné et que nous ignorons le reste. Bon, hé bien ce reste que nous ignorons c’est la « cécité au changement » ou « cécité par inattention ». C’est comme si, en filtrant les parties de l’image que nous voyons, nous devenions aveugles à ce que nous n’avons pas sélectionné comme important.
Pour l’instant nous n’allons pas développer ceci, mais, en résumé, le « syndrome de la sentinelle » consiste en ce que:
a).- Tout n’est pas surveillé, mais juste une partie de ce tout. 
b).- Lorsqu’il se « fatigue », le garde ne perçoit plus les changements qui se présentent dans la zone surveillée parce qu’ils lui sont imperceptibles (c’est-à-dire, ils ne sont pas dignes d’intérêt).
Pour compenser cela, nous utilisons divers moyens :
L’un d’eux c’est la surveillance non directe, la « vision périphérique » ou, en langage courant, « regarder du coin de l’œil ». C’est que le regard indirect permet de détecter les altérations de la routine. Il doit aussi y avoir une explication de cela dans la neuroscience, mais je crois que nous manquons d’études.
Les autres manières de parer à la fatigue de la sentinelle, sont : mettre deux vigiles ou plus couvrant le même point; ou réduire le temps de surveillance et augmenter la fréquence de la relève.
Il peut et il y a d’autres manières pour que la tache de la sentinelle soit accomplie.
Mais l’important c’est qu’il faut être attentif à tout signal de danger. Il ne s’agit pas alors d’avertir du danger lorsqu’il est déjà là, mais de regarder les indices, les évaluer, les interpréter, en somme, les penser de façon critique.
Par exemple: ces gros nuages à l’horizon, est-ce qu’ils signifient que vient une pluie passagère ? quelle est son intensité ? elle se dirige vers ici ou elle s’éloigne
Ou est-ce quelque chose de plus grand, de plus terrible, de plus destructeur ? S’il en est ainsi, il faudra alerter tout le monde de l’imminence de…

La Tempête.

 

Bon, l’affaire c’est que nous, hommes, femmes, zapatistes, nous voyons et nous entendons que s’approche une catastrophe dans tous les sens du terme, une tempête.
Mais…, il se trouve que nous, femmes, hommes, zapatistes, nous voyons et entendons aussi que des personnes ayant de grandes connaissances disent, parfois en livrant leur parole, toujours avec leur comportement, que tout continue comme avant.
Que ce que nous présente la réalité ne sont que de petites variations qui n’altèrent en rien d’important le paysage.
C’est-à-dire que nous, femmes, hommes, zapatistes, nous voyons une chose, et eux une autre.
Parce que nous voyons que sont toujours utilisées les mêmes méthodes de lutte. On continue avec les marches, réelles ou virtuelles, les élections, les enquêtes, les meetings.  Et, de façon concomitante, surgissent et se développent les nouveaux paramètres du « succès », une espèce d’applaudimètre qui, dans le cas des marches de protestation, est inversé: mieux tu te portes (c’est-à-dire moins tu protestes), plus grand est sont succès. Et des organisations des partis politiques, se font, des plans sont tracés, des stratégies et des tactiques, en faisant de véritables tour d’adresse avec les concepts.
Comme si étaient équivalents État, Gouvernement et Administration.
Comme si l’État était le même, comme s’il avait les mêmes fonctions qu’il y a 20, 40, 100 ans.
Comme si le système était aussi le même et de même les formes de soumissions, de destruction. Ou, pour le dire à la manière de la Sexta: les mêmes formes d’exploitation, répression, discrimination et spoliation.
Comme si en haut le Pouvoir avait maintenu son fonctionnement invarié.
Comme si l’hydre n’avait pas régénéré ses multiples têtes.
Nous pensons donc que chez nous ou chez eux, il y a le « syndrome de la sentinelle ».
Et nous, hommes, femmes, zapatistes, nous regardons du coin de l’œil ces mouvements dans la réalité. Nous portons alors une plus grande attention, nous montons au plus haut de l’arbre fromager pour essayer de voir plus loin, non pas ce qui se passe, mais ce qui vient.
Bon, hé bien ce que nous voyons n’a rien de bon.
Nous voyons qu’arrive quelque chose de terrible, plus destructeur si c’était possible.
Mais d’autres fois nous voyons que celles et ceux qui pensent et analysent ne disent rien de tout ça. Ils continuent de répéter la même chose qu’il y a 20 ans, 40 ans, un siècle.
Et nous voyons que des organisations, des groupes, des collectifs, des personnes, continuent de même, présentant de fausses options excluantes, jugeant et condamnant l’autre, le différent.
Et plus : nous méprisant pour ce que nous disons voir.
Bon alors, vous voyez, nous sommes zapatistes. Et cela veut dire beaucoup de choses, tellement que dans les dictionnaires de votre langue il n’existe pas de mot pour ça.
Mais ça veut aussi dire que nous pensons toujours que nous pouvons nous tromper. Que peut-être tout continue sans changements fondamentaux. Que peut-être le Commandeur continue de commander de la même manière qu’il y a des décennies, des siècles, des millénaires. Qu’il se peut que ce qui vient ne soit rien de grave, mais à peine une décompensation, un réarrangement de ce qui ne vaut même pas la peine.
Donc ou bien aucune pensée, analyse, théorie, ou bien la même chose que toujours.
Alors nous, hommes, femmes, zapatistes, nous pensons que nous devons demander à d’autres, d’autres calendriers, de géographies différentes, ce qu’ils voient.
Je crois que c’est comme quand à un malade on lui dit que oui en effet, c’est très grave, c’est-à-dire qu’il est « foutu », comme on dit ici. Et donc bon, comme on dit, il faut chercher une deuxième opinion.
Nous disons alors que la pensée, la théorie, sont en train d’échouer. Que ce soit la nôtre qui échoue, que ce soient les autres pensées qui échouent. Ou peut-être que ce sont les deux qui échouent.
Bon donc, nous sommes méfiants, méfiantes, bien évidemment. Mais oui nous faisons un peu confiance aux compañeras, compañeros et compañeroas de la Sexta. Mais nous savons bien que le monde est très vaste, qu’il existe des autres qui elles, eux, elleux aussi se dédient à ça, penser, analyser, regarder.
Nous pensons alors que nous avons besoin de penser le monde, et aussi de penser de cette manière chacun son calendrier et sa géographie.
Et nous pensons que ce serait encore mieux si nous faisions maintenant une sorte d’échange de pensées. Pas comme on parle d’échange de marchandises, comme dans le capitalisme, mais comme si nous faisions un marché moi je te dis ce que je pense et toi tu me dis ce que tu penses. Ou comme un réunion de pensées.
Mais nous ne pensons pas alors qu’il s’agit d’une réunion et rien d’autre, mais qu’elle doit être grande, très grande, mondiale dit-on.
Et bon, nous, hommes, femmes, zapatistes, nous ne savons pas grand chose. Enfin peut-être en luttant savons-nous quelque chose de nos compañeroas, compañeras y compañeros de la Sexta.
Nous voyons alors que ces réunions de pensées sont appelées en certains lieux « séminaires », nous croyons que parce que « séminaire » veut dire « pépinière » c’est-à-dire qu’ici se trouvent des graines qui parfois grandissent vite et parfois prennent leur temps. 
Et donc nous disons que nous faisons une pépinière d’idées, d’analyses, de pensées critiques de « où en est actuellement le système capitaliste ».
Alors le séminaire ou pépinière n’est pas un lieu unique ni dans un temps unique. Mais qu’il dure et qu’il est en plein d’endroits.
Et alors, hé bien c’est pour ça que nous disons que c’est disloqué, c’est-à-dire pas tout en un seul lieu, mais en plein de morceaux et en plein d’endroits. Et nous disons que c’est mondial, bon, hé bien parce que dans tous les mondes il y a des pensées critiques, qui se demandent ce qui se passe, pourquoi, quoi faire, comment, et ces choses qui se pensent dans la théorie.
Mais alors, nous pensons, ça commence en un lieu et en un temps.
Alors, hé bien, commence quelque part cette pépinière collective, et ce lieu est un escargot zapatiste. Pourquoi? Et bien parce qu’ici les peuples zapatistes, nous utilisons l’escargot pour alerter et pour appeler le collectif.
Et donc, par exemple, s’il y a un problème de la communauté, ou une affaire à résoudre, hé bien on joue de l’escargot et hop tout le village sait qu’il y a une réunion du collectif pour que la pensée dise sa parole.
Ou pour voir comment faire pour résister.
Nous disons donc que l’escargot est un instrument de la sentinelle. Avec lui il prévient qu’il y a un danger.
Le lieu est donc, hé bien, un escargot zapatiste: le caracol d’Oventik, montagnes du sud-est mexicain, Chiapas, Mexique.
Et la date du commencement c’est le 3 mai. Pourquoi le 3 mai ?
Bon, chez nos peuples c’est le jour des semis, de la fertilité, de la récolte, de la graine. C’est le jour de la Sainte Croix.
Les peuples ont pris l’habitude de planter une croix là où naît la rivière, le ruisseau ou la source qui donne vie au village. C’est comme ça qu’on signale que c’est un lieu sacré. Et c’est sacré parce que c’est l’eau qui donne la vie. Alors le 3 mai c’est le jour pour demander de l’eau pour la semence et la bonne récolte. Les habitants vont alors là où naît l’eau pour lui faire des offrandes. C’est-à-dire qu’en parlant à l’eau, ils lui donnent leurs fleurs, ils lui donnent leur tasse d’atole, leur encens, leur bouillon de poulet sans sel. Chez d’autres peuples ils lui donnent un petit verre de gnôle, mais chez les peuples zapatistes l’alcool est interdit et donc ils donnent à l’eau un rafraîchissement. Le bouillon de poulet qu’on donne à l’eau est sans sel, pour que l’eau ne se dessèche pas. En même temps qu’ils sont dans cette cérémonie d’offrande, ils jouent de la musique et tou-te-s, enfants, jeunes, ancien-ne-s commencent leur danse. Et quand l’offrande prend fin, commence la communion du peuple. Ils répartissent la nourriture qu’ils ont amenée : atole aigre, poulet, haricots, calebasse. Tout ce qui est nourriture, ils le mangent là collectivement, près de la naissance de l’eau. Et quand c’est fini, ils rentrent chez eux. Et alors par une pure allégresse, ils continuent de danser dans le village et ils mangent ensemble et ils prennent un café avec du pain. Il y a aussi des comp@s zapatistes qui sont maçons, et alors ils le fêtent aussi et ils racontent qu’ils font une croix de n’importe quel bois qu’ils trouvent et qu’ils la posent quand ils commencent la construction. Ils disent que c’est parce que c’est de la responsabilité du travailleur. C’est-à-dire que le travailleur devient ainsi responsable de la construction et que ça lui donne l’envie que ce soit bien, parce que c’est à lui qu’on doit que ce soit bien.
Alors bon voilà vous savez. Là vous voyez. Accepter ou non le défi, à vous de jouer.
Attention : ce qui suit est seulement pour les intervenant-e-s. C’est-à-dire que ça ne sera que sur les invitations formelles que nous envoyons aux intervenant-e-s. Ne le publiez donc pas parce que c’est une…

Clause secrète :

 

Tout ça pour que vous compreniez, comme on dit, le contexte du séminaire. 
Qu’attendons-nous de vous ? 
Eh bien, il faut comprendre que des gens viennent de loin, qui font le sacrifice de leur salaire et leur temps pour venir écouter ce que vous allez exposer. Ils ne viennent pas pour le plaisir, ni parce qu’ils vont gagner quelque chose. Ils ne viennent pas pour la mode ou par ignorance. Ils viennent peut-être parce qu’ils voient les nuages dans leurs horizons, parce que les pluies et les vents les frappent déjà, parce que la famine ne se soucie pas d’essayer de comprendre, parce qu’ils sentent l’orage approcher.
Tout comme nous, hommes, femmes, zapatistes, nous vous respectons, nous vous demandons de respecter ces personnes. Il y aura des infiltré-e-s bizarre, mais la plupart sont nos comp@s. Ce sont des gens qui vivent et meurent en luttant, personne, à part nous, hommes, femmes, zapatistes, n’en garde la trace. Pour elleux, il n’y a ni musées, ni statues, ni chansons, ni poèmes, et leurs noms ne sont ni sur les rames de métro, ni les rues, ni les quartiers. Ils ne sont personne, c’est sûr. Et ce n’est pas en dépit de cela, mais c’est précisément pour ça que, pour nous, femmes, hommes, zapatistes, ils sont tout.
Ainsi donc, ne vous offensez pas, mais n’apportez pas de slogans, de dogmes, actes de foi, modes; ne répétez pas ce que d’autres ont déjà dit avant ou ailleurs; n’encouragez pas la pensée paresseuse; n’essayez pas d’imposer la pensée dogmatique; ne diffusez pas la pensée mensongère.
Nous vous demandons d’apporter votre parole et qu’elle provoque la pensée, la réflexion, la critique. Nous demandons que vous prépariez votre message, que vous l’aiguisiez, que vous lui donniez du lustre. Qu’avec l’honneur, non du milieu universitaire et de ses pairs, mais de celui qui le reçoit, il soit comme un tremblement ou une gifle, ou un cri. 
La graine qu’appelle ce séminaire ou pépinière nous disions, est celle qui questionne, provoque, encourage, pousse à continuer à penser et à analyser. Une graine pour qu’il y ait d’autres graines qui entendent qu’il faut pousser et fassent à leur manière, en fonction de leur calendrier et de leur géographie.
Oh, oui, nous le savons : cela ne va pas accroître votre prestige, ni votre compte bancaire, ni votre côte de popularité. Mais on verra si vous avez de nouveaux adeptes, disciples, troupeaux.
En effet, le seul signe de réussite ne se verra pas, et ce sera que dans de nombreux endroits, dans d’autres calendriers et diverses zones géographiques, d’autres hommes, d’autres femmes, d’autres autres, défient tout et discutent, débattent, questionnent, critiquent, imaginent, croient.
C’est ce que nous demandons. Seulement ça !
Depuis la conciergerie de la Petite École, accréditée maintenant comme « Office du protocole, de la conception et impression des invitations pour les mariages, les XV ans, les divorces, les baptêmes, les avancements frustrés, les séminaires et autres », en accrochant des enseignes qui disent « Ne te fies pas à aujourd’hui, pas plus que demain » , « Bouées de sauvetage sur demande  » ,  » Prenez votre lorgnette, pirate, barrez-barrez-le-tout-juridique-mon-cher-qu’est-ce-qui-se-passsssssssse » ,  » Dans cet établissement  pas de discrimination fondée sur la myopie ».
Le SupGaleano.
Mexique, avril 2015. 
Hep, hep. Arrêtez votre voiture. L’adresse électronique où vous envoyez vos informations d’enregistrement n’est pas correcte. Elles doivent être envoyées à : seminario.pensamientocritico15@gmail.com. Pour votre compréhension, merci (que les injures soient à l’amande, elles n’ont pas lieu d’être).

vídeo Pajerama

lundi, avril 6th, 2015

Yanomami diz à Ditadura: « Eu não quero mais morrer outra vez »

jeudi, avril 2nd, 2015

Comissão Nacional da Verdade

“O Caso Amarildo de hoje é o caso Rubens Paiva de ontem”

Pedro Dallari e Maria Rita Kehl atacam ‘ilusão de que a ditadura foi um governo limpinho’ em debate promovido pela CPFL Cultura
por Redação — publicado 01/04/2015 13:12, última modificação 01/04/2015 13:15

No Café Filosófico CPFL que a TV Cultura levou ao ar no domingo 29, o advogado Pedro Dallari e a psicanalista Maria Rita Kehl, integrantes da Comissão Nacional da Verdade, fizeram um balanço sobre os dois anos de investigações das graves violações de direitos humanos promovidas pelas ditaduras militar e do Estado Novo.

“Muitos questionam por que investigamos esse período de nossa história. Investigamos porque o padrão de violações de direitos humanos persiste nos dias atuais. O aso Amarildo é o caso Rubens Paiva”, afirmou Dallari, que presidiu a CNV.

A violência do Estado brasileiro contra os pobres é uma violência que vem desde a escravidão e segue adiante”, completou Maria Rita. “Por isso é preciso desmilitarizar a polícia”. Segundo ela, nas investigações sobre índios e camponeses desaparecidos no regime, “sentimos como a tensão por posse de terras ainda é atual no Brasil”.

Segundo o advogado, se as Forças Armadas reconhecessem as violações cometidas no período, não haveria margem para “imbecis” segurarem “plaquinha por aí” com pedido de uma nova intervenção militar.

“Quanto mais a gente entende aquele tempo, mais a gente percebe como hoje é melhor. Mesmo para apurar corrupção. Quem viveu aquela época sabe que o clima era pesado. As pessoas se autocensuravam até nas expressões de alegria”, disse a psicanalista. “Há uma ilusão de que a ditadura era um governo duro, porém limpinho.”

Segundo ela, muita gente se pergunta por que a comissão não se debruçou sobre as ações de grupos armados de esquerda que atuaram no período. Ela responde: “porque nunca houve censura sobre os atos dos grupos de esquerda. Quando os crimes são praticados pelo Estado não são crimes comuns. São violação dos direitos humanos”.

As investigações ajudaram a desvendar episódios obscuros sobre a ditadura, como o atentado ao Riocentro, e a desfazer mitos, como os de que o presidente deposto João Goulart planejava instaurar uma ditadura nos moldes cubanos no Brasil. “Nos impuseram uma ditadura para impedir que virássemos uma ditadura como Cuba. mas nos impuseram uma ditadura pior”, disse Maria Rita, que chegou a discutir com um espectador, que se dizia saudoso da ditadura, durante o debate.

“Se você preferia aquele tempo, em que não se podia sequer investigar, só lamento por você”, respondeu ela.

O encontro foi gravado em novembro, a um mês da entrega do relatório final à Presidência, na sede da CPFL Cultura, em Campinas (SP).