TRAGTENBERG: escola

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Maurício Tragtenberg

:: Pedagogia Burocrática :: « No fundo, o problema educacional é político e econômico, e se reflete na educação. Ele é aparentemente só educacional. É isso um dado básico. Nos termos da pedagogia burocrática, nós conferimos o aluno. O que é o aluno? Uma nota. E até na universidade você ganha nota por um trabalho. Ora, a nota que o aluno recebe pelo trabalho é igual ao salário que o operário recebe pelo trabalho. É idêntico. É a mesma relação de submissão-dominação que o sistema cria. O capital oferece ao trabalhador um salário pelo seu trabalho. O sistema nos coloca em condições de oferecer notas ao trabalho do aluno. É o salário dele, mas é a mesma relação. Por que há essa pedagogia burocrática? Não é propriamente tanto para transmitir conteúdo porque a escola é mais um elemento de disciplinamento, uma prisão, um hospital psiquiátrico tradicional. Hospital psiquiátrico não cura ninguém. Simplesmente o paciente é sedado para não ‘encher’ o psiquiatra. Por isso é que são depósitos de pessoas. (…) Da mesma maneira que o hospital psiquiátrico é disciplinador, a escola é disciplinadora porque ela forma regras de submissão e dominação. A pedagogia burocrática é fundada para isso, porque ela cria aquele elemento submisso que vai ser um submisso na empresa privada. (…) A escola não educa para a autonomia, educa para a submissão. Para ela educar, ela pode educar para a autonomia. (…) Há uma educação para submissão e uma educação para a autonomia e para autogestão. Mas isso depende de um processo social fora da escola. » [Maurício Tragtenberg, « O papel social do professor », 15 de novembro de 1980, in « Educação e Burocracia », p. 110-111)

 Maurício Tragtenberg

:: « Hierarquia administrativa e pedagógica » :: « O professor é submetido a uma hierarquia administrativa e pedagógica que o controla. Ele mesmo, quando demonstra qualidades excepcionais, é absorvido pela burocracia educacional para realizar a política do Estado, portanto, da classe dominante, em matéria de educação. Fortalecem-se os célebres ‘órgãos’ das Secretarias de Educação em detrimento do maior enfraquecimento da unidade escolar básica. Na unidade escolar básica é o professor que julga o aluno mediante a nota, participa dos Conselhos de Classe, onde o destino do aluno é julgado, define o Programa de Curso nos limites prescritos e prepara o sistema de provas ou exames. Para cumprir essa função ele é inspecionado, é pago por esse papel de instrumento de instrumento de reprodução e exclusão. » (Maurício Tragtenberg, « Relações de poder na escola », 1985)

« A escola se constitui num centro de discriminação, reforçando tendências que existam no ‘mundo de fora’. O modelo pedagógico instituído permite efetuar vigilância constante. As punições escolares não objetivam acabar com ou ‘recuperar’ os infratores, mas ‘marcá-los’ com um estigma, diferenciando-os dos ‘normais’, confiando-os a grupos restritos que personificam a desordem, a loucura ou o crime […] É a estrutura da escola que legitima o poder de punir, que passa a ser visto como natural. Faz com que as pessoas aceitem tal situação. É dentro dessa estrutura que se relacionam os professores, os funcionários técnicos e administrativos e o diretor ». [Maurício Tragtenberg, « Relações de Poder na Escola », artigo escrito há 30 anos]

:: via Marx da Revolução :: « A autogestão pedagógica teria o mérito de devolver à universidade um sentido de existência, qual seja: a definição de um aprendizado fundado numa motivação participativa e não no decorar determinados « clichês », repetidos semestralmente nas provas que nada provam, nos exames que nada examinam, mesmo porque o aluno sai da universidade com a sensação de estar mais velho, com um dado a mais: o diploma acreditativo que em si perde valor na medida em que perde sua raridade ».(TRAGTENBERG, Maurício (1990) Sobre Educação, Política e Sindicalismo, 2ª edição. São Paulo, Cortez Editora/Autores Associados (Coleção Teoria e Prática Sociais))

Photo de Marx da Revolução.

:: Sobre o vestibular :: « O vestibular escolhe os escolhidos. (…) Eu acho qualquer seleção, em tese, execrável, especialmente educacional, porque ela mascara uma seleção social pré-existente »

« …Na rede escolar, o culto da arte, ciência pura, profundidade filosófica, sutilezas psicológicas, são formas de inculcação vinculadas a orientar a ação do educando conforme as normas de direito, políticas hegemônicas, sendo representadas enquanto deveres.

A inculcação não se dá pelo discurso mas através de práticas de exercícios escolares onde a nota equivale ao salário, recompensa pelo trabalho realizado. Da mesma maneira que o mercado do trabalho é regulado pela competição, no interior da escola ela é cultuada nos sistemas de promoção seletivos. O aluno é obrigado a estar na escola e é livre para decidir se quer ou não, ter êxito ou não, como o indivíduo é livre ante o mercado de trabalho.

As práticas do ritualismo escolar, deveres, disciplinas, punições e recompensas, constituem o universo pedagógico. A escola realiza com êxito o processo de recalcamento de pontos de vista opostos aos hegemônicos e esse sujeição condiciona a inculcação. O trabalho é vagamente valorizado, enquanto artesanato, o processo histórico é reduzido a um conjunto de guerras, datas e nomes cuja finalidade principal é reduzir à insignificância o significativo: dimensões sociais do histórico ou sua temporalidade. Veja-se a dificuldade em convencer os historiadores de que o presente também é história.

O aparelho escolar contribui para a reprodução da qualidade da força de trabalho, na medida em que transmite saber e regras de conduta (ler, escrever e contar), que têm um destino produtivo. »

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