Archive for the ‘nazismo’ Category

COHEN: Homo Sapiens 1900

dimanche, octobre 25th, 2015

Eugenia

Ainda seria preciso rever, depois de tanto tempo, esse filme, Homo Sapiens 1900, que impressionou muito e hoje percebo que significou um antídoto importante contra a racionalidade instrumental e o simplismo da bipolarização do mundo por aparências nessa nossa luta diária do pensamento contra a fetichização do olhar e a lógika exclusivista.

Pesquisando por cima, não há muita coisa na internet, nem sobre esse filme, nem sobre Peter COHEN, que tinha feito um outro, chamado ‘Arquitetura da Destruição’.

Talvez seja importante fazer uma resenha e melhorar e traduzir os artigos da Wikipédia… Axs estudiosxs fica o apelo, o pedido…

Temas como esse exigem pensamento crítico complexo, em tempos de bipolarizações e algorítmos com base binária operando nossas vidas por ‘preferências’ visuais e por cliques diante de uma tela plana, de uma sociedade da ‘performance’, da excelência, das exclusividades, urge o exercício dialético do pensamento e de outros meios de se se fazer presente, na real, e não virtualmente.

O tema central é atual, infelizmente, assustadoramente: eugenia. Mas sem pensamento crítico não me lembro se o filme tem potência crítica por si só e se não geraria mais confusão pra quem não estuda história (ou pior, cuja versão da história é ideológica e/ou propagandística) nesses tempos $ombrios em que ela parece querer se repetir.

De memória, se não me falha, uma das constatações que quebram a ideolgia dominante que faz barbaridades ’em nome da demokracia’, foi saber que o governo da Suécia esterelizou, mesmo depois do nazismo ter existido, todas as mulheres consideradas com ‘deficiência’.

Seria pertinente por ora lembrar o quanto toda essa teoria eugenista é falsa, perigosa e anti-humana, pois se baseia num princípio de ‘pureza’ genética que é o contrário do princípio essencial pra vida da humanidade existir: a necessidade da diversidade, de variação genética. Por isso, aliás, a necessidade de dois pra fazer um, pois a mistura de duas bases genéticas diversificadas pra fazer uma nova vida variada é fundamental.

É a diversidade que é nossa riqueza: genética, cultural, psíquica, espiritual… Mas o problema oculto mais grave até hoje é que não sabemos lidar com as diferenças e operamos por exclusão, por discriminação ‘pejorativa’, por dominação, ‘subjulgamento’. Sendo que a humanidade só se faz humanidade ao se relacionar com o que é considerado diferente, ‘outrx’, e mais profundamente, com aquilo que nos é frágil, lento, débil, errante… O exemplo do tratamento (não somente médico, mas social) das pessoas portadoras de trisomia 21 na história é flagrante dessa lógica discriminatória, por inferiorização, debilização, exclusão, segregação. Aliás, um filme radical, que vai numa das raízes dessa história, é o ‘Fita Branca’ do Michael HANEKE, onde é apresentada a Alemanha interiorana, a infância da geração que viria a ‘sustentar’ o regime nazista quando adultos. E uma das questões centrais do filme é o tratamento que as crianças sofrem e como elas reproduzem essa violência punitivista que sofrem revidando e armando pra cima de bodes-expiatórios, como por exemplo na discriminação de uma criança portadora de trisomia. (Atualmente temos o bullying, que também é revelador do sistema de valores e valorização simbólika do kapital por padrões estéticos que moldam nossos ‘gostos’).

Voltando ao Cohen, a sacada do filme me parece ser a de revelar que a lógika eugenista foi política de estado em todos os tipos de regimes políticos dessa época (na Suécia, na URSS, nos USA, e na Alemanha), que mesmo opostos em diversas táticas e concepções políticas, no fundo, operaram ou acabaram por operar numa mesma base lógika. Não apenas que a economia fordista se tornou modelo econômico de desenvolvimento, mas que há uma racionalidade instrumental própria, de valorização do tipo de desenvolvimento téknico das forças produtivas que passou a reger todas as esferas da vida. E tem uma linha dessa racionalidade instrumental que se desenvolve e hoje desemboca naquilo que se chama de ‘gestão’. Os aparatos repressores do Estado como gestão a céu aberto de campos de concentração periféricos nas megalópolis, por exemplo. O que sustenta a hipótese de que estamos operando dentro de uma mesma episteme, que ocidentalizou o mundo, desde a Grécia Antiga, passando pelas empresas koloniais de tráfico de gente na forma de escravos e de extração da natureza na forma de mercadoria até chegar nessas guerras ditas civis, mas que são alimentadas pelos Estados-Nação e seus interesses merkadológikos. Espoliação.

Então a eugenia não foi um episódio acidental, isolado, datado, que depois foi ‘superado’ pelo modelo de democracia posterior. Há transformações, certamente, em áreas em que isso era descaradamente expresso, mas a tese a ser trabalhada, é a de que há uma continuidade, mesmo nessas transformações, em outros setores da vida, dessa lógika baseada numa concepção evolutiva da humanidade por exclusividade, por identidade, por fronteiras, segregação, divisão das pessoas pela quantidade de melanina, mas agora associada à quantidade de kapital akumulado, seja na forma de mercadorias, bens de consumo, ou na forma de kapital simbólico, cujo sistema de valoração inclui como variante a cor de pele entre muitas outras nuances… E Eugenia é um termo específico pro campo da genética, mas hoje no neoliberalismo essa mesma lógika aparece operar no nacional-desenvolvimentismo-aceleracionista, mesmo que a economia se diga transnacional, ainda se reforça em fronteiras identitárias segregacionistas de fachada, pra dar coesão simbólika e ekonômica às nações… Vide a importância da cadeia nacional de televisão pra esta kolonização dos espíritos.

Isso parece contribuir pra compreendermos como essa lógika desenvolvimentista por excelência performática (rankeamento, meritokracia, protagonismos) cujas bases são valores como mais rápido, mais forte, mais rentável, lucrativo (eficiência em extrair mais-valor do trabalho alheio) atravessou regimes supostamente antagônicos, que mesmo com claras diferenças táticas e concepções políticas, estruturaram-se sobre essa ideia obsessiva de desenvolvimento baseado numa excelência, em excepcionalidade, em exclusividade que precisa se afirmar por identidade excluindo, por contraste comparativo, concorrencial, de um outro pólo, negativado, considerado deficiente (x estrangeirx, x outrx).

Essa fórmula fascista parece ter aprofundado uma episteme que desencadeou no kapitalismo globalizado de hoje.

Lógika em germe desde a Grécia Antiga, em suas cidades-Estado, em sua lógika de guerra e conquista, em sua organização territorial, política…

E não, não se trata de jogar o bebê junto com a água do banho, nem de água potável pra fazer a bosta rolar até a rede de esgoto, há conceitos democráticos fundamentais que nos guiam até hoje, porém é preciso ver que apesar de enunciados, teorizados, desde sua origem, não se realizaram de fato, ou pior, se realizaram falseando a realidade, cinicamente, pois ao garantir ‘direitos’ a uns tantos, exclui necessariamente outrxs tantxs.

Arkitektur

Uma das áreas que parece manter um olhar seletivo ‘eugenista’ á a ‘estética’. Quer dizer, a indústria cultural, os meios de massa operam seleções de pessoas por padrões estéticos e nos modelam os gostos, nos fabrikam formas de/a desejar. Basta assistir televisão e depois nos olharmos no espelho ou na rua a população, a real sem o filtro de cores saturadas, sem o enquadramento. (Isso quando não me olho no espelho já seguindo esse enquadramento, falseando minha própria percepção de minha imagem). A moda, a publicidade, operam um tipo de eugenia, pois é um padrão estético imposto artificialmente, por seleção de quem se mostra na tevê e como. Olhar que, associado à discriminação de classe, parece ser um fator quase irracional operante no social, por funcionar como uma imagem impressa em nossa mente que precede o pensamento, pré-racional, que se insere dentro de um discurso, de narrativas que mobilizam os afetos em torno dessa impressão imagética. Quando se faz apelo ao rótulo de ‘bandido’, por exemplo, na tevê, há um ‘biotipo’ que é apresentado, misturado a um tipo social, o pobre, que está operando, ou pior, fazendo a pessoa operar, misturando cor de pele e vestimenta pra colocar aquela imagem colada ao perigo da violência urbana. A culpa pela violência desse sitema de exclusão é trokadilada e mostrada como se fosse oriunda do jovem pobre, que é na real quem mais sofre e morre com a violência sistêmika mantida pelas mãos invisíveis do Merkado, a saber, os aparatos repressores do Estado.

Mundo Estatístiko, em que pessoas viram números no jornal, que antigamente ainda servia pra embrulhar os cacos de algum vidro quebrado antes de jogá-lo no lixo, e hoje não passa de pixels, cuja leitura, interpretação, tradução pelo pensamento e pelo coração, pela sensibilidade, fica ainda mais difícil…

43 estudantes desaparecidos pelas mãos do Estado Mexicano;

95 negros assassinados por dia no Brasil;

Zilhões de mulheres e meninas violentadas no mundo inteiro diariamente;

Zilhões de indígenas e povos e línguas e culturas dizimadas desde a kolonização…

https://www.youtube.com/watch?v=qaX5s4wfHmk

https://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenia

https://fr.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A9nisme

https://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Cohen

https://pt.wikipedia.org/wiki/Underg%C3%A5ngens_arkitektur

https://www.youtube.com/watch?v=IBqGThx2Mas